15 de junho de 2013

Roleta Russa



Fiz no meu perfil do Facebook uma pequena reflexão sobre os protestos de 'estudantes' em SP. Reproduzo aqui e acrescento um videoclipe que gostaria muito que vocês assistissem (acho bastante sinistro esse vídeo - não sei se é um aviso ou se estão esfregando algo na nossa cara):

"O motor psicológico de todo revolucionário é a necessidade por transgressão típica da adolescência. Não é por nada que a mídia chama o manifestante de 'jovem' - sabe que está lidando com elementos inseguros, sedentos de ação e de acontecimentos que transcendam sua mediocridade cotidiana, com déficit de imaginação e de sentido existencial; daí importante lisonjeá-los.Toda revolução usa o jovem como bucha de canhão e logo depois os elimina aos milhões em gulags, campos de trabalho forçados, massacres, programas de lavagem cerebral em massa, etc; afinal, hormônios são incontroláveis. O homem que sonha é uma granada que explode por toda a eternidade. Embora cada vez mais perigosa, no âmbito particular, a transgressão quase sempre é benéfica e parte do processo de amadurecimento da personalidade (é o tema preferido dos filmes de Milos Forman, confiram); já no âmbito da sociedade a transgressão é uma roleta russa. Nem todas as forças da sociedade são irracionais e instintivas como esses grupos de adolescentes. As elites intelectuais excitam-se com revoluções como os jogadores com o embaralhar das cartas. Os jovens não sabem o que querem; no entanto comunistas, nazistas, fascistas, maçons, cartéis, seitas religiosas, grupos tradicionais organizados, famílias mafiosas e qualquer grupo que não faça da masturbação e do uso diário de drogas emburrecedoras sua principal ocupação lúdica sabe. O Coringa vai parar inevitavelmente na mão de quem olha o jogo como um todo; aos jovens, como sempre, restará a pilha de descarte."



1 de junho de 2013

Síndrome de Raul Gil



Um dos grandes males da minha geração é algo que chamo, assim de brincadeira, de "Síndrome de Raul Gil". Essa geração cresceu com uma expectativa exageradíssima sobre sua capacidade e sobre o seu destino. Foi marcada com um senso desproporcional de protagonismo e dotada de um senso de realização pessoal irracional muitas vezes delirante. Ninguém consegue convencer as pessoas dessa geração, quando é o caso, de que não sabem cantar, nem atuar, nem dançar, que são feios, suas vozes são horríveis, não tem nenhum carisma nem talento e que, muitas vezes, são ignorantes e/ou burros demais para o que pretendem fazer. Nada consegue tirá-las da sua ilusão de 'gracinha da mamãe' - tudo as machuca, desrespeita, ofende suas heroicas escaladas rumo ao Olimpo. Consideram-se prontos e acabados desde o nascimento, celebridades ainda não descobertas apenas pela inveja que imaginam receber de todos ao seu redor. Cada uma dessas pessoas uma revelação 'urbi et orbi' para o mundo. Às vezes até tem algum talento, mas não conseguem desenvolvê-lo por causa da incapacidade total de avaliar seus potenciais com honestidade.A frustração da não-realização dos seus sonhos de infância causa então um sofrimento enorme nestas pessoas. Elas, muitas vezes, acabam caindo na promiscuidade e nas drogas para fugir de uma realidade que avoluma-se cada vez diante dos seus olhos: a de que provavelmente são medíocres. E mutilam-se: tomam esteroides, tentam afirmar a personalidade tatuando o corpo inteiro com símbolos que desconhecem, implantam silicone, fazem plásticas agressivas, ficam anoréxicas, são vitimizadas pela moda e pelo consumismo voraz.Talvez até nem sejam mesmo medíocres; mas como convencê-las de que elas precisam se aperfeiçoar? Jamais conseguem se desenvolver em nada por pura incapacidade de exercer alguma humildade sobre si mesmos. São imunes a qualquer 'anamnese' possível. Em busca de ser estrelas comportam-se como buracos negros. Talvez por isso a minha geração seja tão ressentida e magoada. As ideologias enxergam, com muita esperteza, esse mar cheio de peixes e atiram a rede que volta farta. Eu sei que 'tudo-pode-ser-só-basta-acreditar-tudo-que-quiser-você-será', mas talento é algo raro. E fama é algo inexplicável; está aí o You Tube para comprovar. A celebridade não é um direito, mas sim uma graça efêmera que vai e volta como o vento. Ainda existe uma coisa chamada 'sorte'. É claro que muitos conseguem se libertar dessa síndrome e encontrar alguma consolação na vida. E muitas vezes ela é encontrada em uma inesperada habilidade de cultivar jardins, no prazer da contemplação de um mistério religioso ou no amor de uma mulher e filhos. Muitos infelizmente não conseguem e perecem pelo caminho na tristeza infinita de uma sarjeta, no fundo de uma espiritual garrafa de desalentos eternos. A nossa geração precisa retornar urgentemente ao empreendimento mais essencial da jornada humana sobre a Terra, empreendimento mesmo do qual os poetas, profetas e filósofos perseguiram com tanta obsessão e esperança: a busca do 'Eu' e a conquista definitiva de uma verdadeira personalidade.

*cena do filme "Inland Empire", de David Lynch