Quando a dramaturgia de Carlos Correia Santos for um dia analisada e dividida em fases, estilos ou gênero do tipo, etc, certamente haverá um espaço para as suas já famosas peças biográficas, ou como ele mesmo chama à instrumentação, "dramaturgia histórico-investigativa". É muito saudável para qualquer cidade desse país ter iniciativas como a que o dramaturgo vem praticando desde "Nu Nery" (onde dissecou a relação do pintor paraense Ismael Nery com sua esposa Adalgisa e o poeta mineiro Murilo Mendes - os últimos dois também com peças biográficas), continuando com outras peças como "Júlio Irá Voar" (que retrata os esforços hercúleos do pioneiro da aviação Júlio César Ribeiro de Souza em levantar um balão dirigível em Belém), "Eu me confesso Eneida", "Theodoro" (baseada na biografia do pintor Theodoro Braga), "Batista" e agora o musical "Acorde Margarida", inspirado na memória da musicista Margarida Schivasappa.
As peças que resgatam a memória de personalidades da história paraense por si já garantem a Carlos Correia um lugar de destaque não só na dramaturgia nortista como também na dramaturgia brasileira, no entanto, sempre trazem a desvantagem de parecer excessivamente didáticas com os seus personagens. O ato de transpô-los para a cena é um exercício valioso de resgate da memória cultural do nosso estado, mas a predileção pela laudatória e por um certo tom de autocomiseração na forma talvez mais reduzam as suas personagens do que as engrandeçam. É óbvio que lançar mão desses recursos dramáticos fazem de Carlos Correia também um excelente marqueteiro de sua escrita e poética, naturalmente irrepreensíveis. O meio cultural paraense tem um pendor muito forte para a valorização do regionalismo com tintas alegres e ser "político" é sempre muito vantajoso em um cenário onde empreender cultura ainda é muito dependente das instituições públicas, em especial no teatro. Confesso que eu mesmo não conhecia a história da musicista Margarida Schivasappa (que dá nome a uma casa de show teatro da cidade) e sou muito grato pela oportunidade.
As peças que resgatam a memória de personalidades da história paraense por si já garantem a Carlos Correia um lugar de destaque não só na dramaturgia nortista como também na dramaturgia brasileira, no entanto, sempre trazem a desvantagem de parecer excessivamente didáticas com os seus personagens. O ato de transpô-los para a cena é um exercício valioso de resgate da memória cultural do nosso estado, mas a predileção pela laudatória e por um certo tom de autocomiseração na forma talvez mais reduzam as suas personagens do que as engrandeçam. É óbvio que lançar mão desses recursos dramáticos fazem de Carlos Correia também um excelente marqueteiro de sua escrita e poética, naturalmente irrepreensíveis. O meio cultural paraense tem um pendor muito forte para a valorização do regionalismo com tintas alegres e ser "político" é sempre muito vantajoso em um cenário onde empreender cultura ainda é muito dependente das instituições públicas, em especial no teatro. Confesso que eu mesmo não conhecia a história da musicista Margarida Schivasappa (que dá nome a um
Conhecendo a obra do autor (tive a sorte de ler quase todas as peças) reconhece-se em cena rapidamente as características mais marcantes do seu estilo, entre elas o uso da automação e do inusitado. Como bem descrito por Isaias Edson Sidney: "A automação (e sua quebra) revela as nossas semelhanças diante dos fatos
da vida, aquilo que temos que todos têm, o que já constitui, em si, uma
tragédia (ou um drama): pensamos que somos espertos ou sublimes, mas
somos os idiotas e toscos de sempre. Já o inusitado (ou inesperado)
rompe a mesmice do cotidiano conhecido para mostrar a mesmice de nossa
psique desconhecida,quebrando automatismos que ignorávamos, o que revela
a nossa soberba e a nossa estupidez." É importante ressaltar que "Acorde Margarida", apesar de musical, se encaixa no gênero cômico por ter um "final feliz". Adiante.
O talento na construção da psiquê dos personagens na obra de Carlos Correia Santos exige a valorização atenciosa a essas duas características construtivas da trama cômica. A montagem optou por um estilo caricatural na construção de Memê que, apesar de destoar alegremente da tendência do autor em criar personagens muito orgulhosos de suas personalidades, acaba escamoteando o interessantíssimo drama de memória da personagem, desvalorizado na busca pelo riso mais espalhafatoso e menos pela aposta na identificação da platéia - o que acontece milagrosamente na cena decisiva da peça quando a atriz Maíra Monteiro dá um salto tremendo do caricatural para o naturalismo, revalorizando com talento o que, para os conhecedores dos recursos de construção dramatúrgica do autor, já estava revelado desde a primeira cena. O autor sabota seu próprio esquematismo dramático com a construção poética sensível que dá aos seus protagonistas - importante ressaltar - mais no conteúdo dramático potencial do que na forma, uma vez que padece dos já citados excessos em laudatória e autocomiseração.
Apesar dos coadjuvantes mais caricatos 'puxarem' a personagem principal
para um tom acima do que o texto sugere em riqueza de atos falhos e
negações melancólicas, a direção de Hudson Andrade se beneficia da construção dramatúrgica esquemática porém correta do texto do autor, conduzindo um espetáculo que felizmente também faz da música de Reginaldo Vianna uma importante parceria. A comédia também está no patético, sendo este importante recurso no desvelamento da humanidade nos tipos humanos. Recurso ainda mais importante quando se trata de dar carne, osso e suspiros para personalidades que se tornaram imóveis ao nomear prédios públicos.
A luz de Sônia Lopes é mais uma vez prejudicada pela dificuldade terrível de se encaixar o estilo italiano no teatro Cláudio Barradas (o que me convence de uma vez por todas que o teatro é ideal para a arena e não para suprir os teatros italianos fechados da cidade). No mais, "Acorde Margarida" se realiza como musical por contar com um elenco vibrante, produção sem exageros e músicas emocionantes que garantem a alegria na volta para casa. E também foi difícil esquecer o solo musical de Fernanda Barreto provando que a entrega ainda é a alma do palco.
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