26 de março de 2016

"Prometheus" - Ridley Scott rindo da ciência moderna


"Prometheus"decepcionou muitos fãs daquele universo "Alien" imortalizado no cinema pelo talento de Ridley Scott para a ficção científica espacial. Bobagem. Só decepcionou aqueles que esperavam mais do entretenimento fácil, repleto de explicações demais, com ação de videogame, que é o feijão-com-arroz da Hollywood de hoje. Ninguém quase esperou um filme denso, filosófico, cheio de referências externas, de premissas misteriosas tão cheias de imaginação. 

O 'prequel' de "Alien, o Oitavo Passageiro" é uma virada no universo Alien, muito mais místico e aberto a possibilidades; menos niilista, sem deixar de continuar insólito, cético, escatológico, irônico e sádico, com palavras e imagens aterrorizantes.

Em 2093, a nave "Prometheus" vai a um planeta distante na esperança de contatar uma inteligência extraterrestre que possa explicar a origem da vida na Terra, trazendo a bordo uma tripulação de cientistas patrocinados por um magnata moribundo (Weyland). Acompanham a missão dos navegadores a filha de Weyland (Vickers, interpretada pela magnética Charlize Theron) e David, um andróide que o magnata trata como seu filho predileto.

O filme começa com belas imagens da Terra primordial. Um ET extremamente VIRIL se sacrifica às margens de um rio e desencadeia uma versão poética para a teoria da panspermia: a teoria de que a vida na Terra veio do espaço. Seu corpo se desfaz, e seu DNA é incorporado ao meio ambiente, dando início a criação da Vida. Se o Engenheiro - como são chamado esses seres ao longo da trama - fizeram isso "por amor", não sabemos. Talvez tenha sido apenas colonização, investimento obscuro de uma civilização obscura. Ou como é dito logo mais no filme: "porque eles podiam".

Adiante.

COMEÇA O SPOILER: ASSISTA AO FILME PARA MELHOR USUFRUTO DA RESENHA.

1 - David, o menino que quer ser gente

Dois anos separam a Terra desse mundo distante nas estrelas. A tripulação em animação suspensa é assistida neste intervalo pelo robô-andróide David (Michael Fassbender, um dos maiores atores de sua geração). Enquanto acessa as memórias e sonhos de toda a tripulação através das esquifes que monitoram a saúde e o sono dos tripulantes, David ouve música clássica, acessa a internet e parece assistir a TODOS os filmes da cinematografia existente. Numa das cenas, imita os gestos de Lawrence da Arábia com perfeição. Claro, que logo ele se torna o mais humano de todos na nave. E também o mais perigoso. Uma mistura de Hal-9000 com Pinóquio, e ares de charme perturbador.

2 - A tripulação

Compõe a tripulação um time de cientistas, geólogos, médicos e arqueólogos, como o casal Elizabeth Shaw e Charlie Holloway- os descobridores do planeta distante que logo chamaram a atenção do magnata Weyland para o planejamento e execução de uma viagem rumo ao encontro dos "Engenheiros" da ração humana.

Vickers é a Diretora da Missão, estando ali para garantir o investimento de Weyland.

E ao contrário do Alien de 1979, apenas três operários e alguns mercenários. Um empreendimento entretanto mais científico, bem diferente da "Nostromo" da tenente Ripley, cuja função era de ser um cargueiro de minério espacial.

Na reunião, após a hibernação traumática de dois anos, eles são informados de que o motivo de estarem ali é para provar a existência da origem da vida na Terra e encontrar o "Criador". Mesmo patrocinados pela Weyland Corporation, todos dão risada daquela suposta loucura patrocinada com milhões. Exceto David, que já formula no seu íntimo sua agenda pessoal secreta.

3 - Os Engenheiros

Logo a lua do gigante gasoso LV 223 é explorada, e acham uma estrutura construída por algo inteligente. Deslumbrados pelo novo mundo, fazem uma descoberta empolgante atrás da outra, desvendando uma espécie de depósito ou base. Os ETS Engenheiros então são vistos em uma reprodução holográfica dos seus últimos momentos naquele lugar: foram exterminados por uma força desconhecida, algum acidente biológico. David explora o lugar com mais intimidade que o resto da tripulação, levando amostras, desvendando hieróglifos, abrindo portas. Com menos medo também por ser um andróide sem alma. Ali aconteceu um holocausto. Uma cabeça de Engenheiro é levada e é feita a descoberta tão esperada nos laboratórios da "Prometheus: somos descendentes dos tais Engenheiros. Enquanto isso, dois cientistas imbecis se perdem na pirâmide e sofrem terrivelmente os horrores daquelas criaturas insólitas que lembram serpentes, aranhas, órgãos sexuais devoradores de gente e vermes pré-históricos.

4 - A experiência de David - que despreza a Humanidade - e os padecimentos do casal Shaw

O casal representa dois tipos de cientistas: Charlie é a mente fechada ao Transcendente, com respostas fáceis, tipo "a vida é banal no Universo"; Elizabeth (a deslumbrante Noomi Rapace, ô menina linda!), rebate: "Mas eu não dou a Vida". Shaw sofre por não engravidar. Charlie se conforma com ter descoberto os Criadores da raça humana; mas ela rebate: "Mas quem os criou?"

David - que não dorme nunca -  conhece a natureza humana dos tripulantes o suficiente para prever reações e movimentos. Então infectou antes Charlie Holloway com a substância dos cilindros da estrutura Alien, com o casal fazendo sexo após a cena nupcial filosófica. A cena anterior é cheia de significados elucidativos.

O andróide embebeda Charlie usando o copo para contaminá-lo com a substância negra. Simulando intimidade e descontração, protagoniza o diálogo que define os planos de David: 
- "Por que vocês nos criaram?"
- "Porque nós podíamos."
- "Você pode imaginar o quanto seria decepcionante se você escutasse essa mesma resposta do seu Criador?"

David o contamina com gosto, e por tabela a doutora Shaw também. Seu subtexto certamente seria: "Ah, é seu humano desprezível filha da puta? Vou levar você ao seu Criador e mostrar a você como eu me sinto. Sem amor e sem sentido. Vou mostrar que você não passa de um robozinho desalmado também. Com um leve diferença, é claro: sou mais aperfeiçoado. Enquanto você é só um macaco tocado pelos deuses."

Eis a agenda secreta de David: substituir os humanos e até mesmo o seu criador. Essa agenda secreta o leva até a Câmara do Engenheiro, onde descobre dominar a tecnologia deles com facilidade. O menino feito de pau agora acredita ser Deus ele próprio. 

"Grandes coisas tem pequenos começos".

5 - A virada da Missão

Sucessão das tragédias. Charlie adoece. Vickers o mata alegando protocolo de descontaminação. Shaw vai pra enfermaria onde David já a espera para dar a ela a Boa Nova: "Você está grávida!". Shaw não confia no andróide e exige retirar o alien do seu ventre, não sem que antes David retire a Cruz do seu peito e revele o quanto sabe sobre ela e sua relação com o pai católico que morreu "abandonado por Deus". David é mau e sádico. Um Pinóquio sinistro. Uma tecnologia a serviço de uma força de aniquilação maligna como Hal-9000. Sob um manto de charme. "Para criar, às vezes, algo deve ser primeiro destruído". Shaw foge. Se vira nos 30 retirando a criatura bizarra do ventre por conta própria, trancando a coisa no módulo de Vickers. Cambaleante descobre a verdade da missão: o magnata Weyland estava o tempo todo ali, em criogenia, caindo aos pedaços, sequioso do encontro com os Engenheiros, se preparando para o seu próprio milagre de ser salvo da morte. Weyland é o Prometheus que quer roubar o fogo dos deuses, alcançando a imortalidade, arrogante, não aceitando nada mais nem menos do que ser um deus ele também.

Shaw descobre que não é a única a buscar um sentido para a existência humana ali naquela nave. Descobre que também está ali para roubar o fogo dos deuses.

- "Onde está a sua Fé?"

Descobrimos no final dessa virada a verdade: Vickers é filha de Weyland. Ele busca o Pai, mas nunca amou a Filha. E fez dela uma criatura ainda mais desumana que David, o andróide. Pobre humanidade.

6 - Hora da verdade (ou não?)

Um cientista volta como monstro-alien e faz o diabo na nave. "A razão produzindo monstros". Cai a ficha de que todo aquele lugar é uma nave que serve de base para os Engenheiros que perderam o controle de suas armas biológicas para uma destruição da vida espalhada pelo Universo por eles próprios. Isso deixa Shaw chocada. Janek, o comandante-piloto da Missão partilha de sua preocupação com o destino da Terra com a chegada dessa arma biológica (que são os aliens da série "Oitavo Passageiro"). 

Shaw compõe o séquito de Weyland que vai conversar com o Engenheiro remanescente escondido por David. David jura dominar a situação. Shaw interroga o Engenheiro exigindo respostas para a destruição da Criação. David é decapitado, como um boneco. Weyland e seu séquito são todos mortos. Em cena poética, o Criador e seu Filho agonizam um lado do outro contemplando a falta de sentido, a crueldade de um deus ofendido sem um pingo de amor. Shaw escapa a tempo de implorar a Janek para que não deixe a nave alienígena partir, pois iria para a Terra. É atendida pelos nobres peões da Missão. Tal sacrifício jamais seria feito por nenhum dos outros tripulantes, todos cientistas egoístas e imediatistas, inseguros e medrosos. Vickers, que não é diferente, indiferente à Humanidade tanto quanto David, se não ainda mais, corre da nave dos súbitos mártires, em vão, perecendo sob o peso da desconhecida e insólita nave que lembra um monstro abissal lovercraftiano, destruído pelo sacrificio humano.

7 - A doutora Shaw, a mística de Damon Lindelof que enfrenta o universo niilista de Ridley Scott

David está humilde agora. Ou simplesmente deseja continuar a sua agenda. Sua jornada para dentro do ventre da baleia foi em vão. Decide ajudar Shaw que está em crise espiritual, sem forças para levantar. David dá a solução: pode dominar a tecnologia das outras naves. Shaw reage e vai até o módulo de Vickers para se salvar da morte sem oxigênio. Lá encontra o seu "filho" e é seguida pelo Engenheiro, avisada por David na última hora. O Engenheiro é consumido pela criatura insólita. A criatura devora o seu Criador.

Shaw negocia ajudar David em troca da Cruz do seu Pai. David se alia a ela na busca para compreender o porquê da decisão dos Engenheiros em destruir a Criação em todo o Universo. Mulher e serpente de língua bifurcada juntos novamente em busca da Árvore do Conhecimento. 

Nasce o Mal, uma criatura que gerará a destruição encarnada, um demônio da escuridão do espaço. Mas também nasce o bem da busca pelo Sentido em uma mulher e em um andróide.

8 - "Prometheus" inverte o Universo Alien

Nessa nova "timeline" (que também é prequel e spin-off), Ridley inverte duas premissas básicas desse universo:
- a saga dessa vez vem da Terra para o Desconhecido; ao contrário da saga da Tenente Ripley, que vem do Desconhecido à Terra;
- a criação agora revela-se masculina - portanto, judaico-cristã - expressa claramente na virilidade dos ET's gigantes, na relação de Shaw com o pai, com o Pai da sua religião (narração dizendo "ano 2093 - ano de Nosso Senhor"), e na relação de Vicker e David com seu pai Weyland.

CONCLUSÃO

9 - Ridley ri da ciência moderna novamente e aponta a Ciência Verdadeira

Ridley, no Universo Alien, ridiculariza o otimismo da corrida espacial. Diz, em 1979, para a humanidade deslumbrada que lá na escuridão do espaço pode ter apenas morte e destruição, não civilizações coloridas e nem batalhas de Jedis e  doutores Spocks amiguinhos dos homens. Agora ele o humilha dizendo que pode perder a cabeça como David e quebrar a cara na presença dos deuses como Weyland. Mas não está tão niilista assim. Elege a doutora Shaw como a síntese da verdadeira Ciência que pode nos trazer verdadeiro sentido e respostas, que foi responsável pelos avanços verdadeiros do conhecimento humano de todas as épocas, a despeito da arrogância da ilusão moderna e "iluminada": uma síntese de Fé e de Razão.

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9 de janeiro de 2016

Entrevista com corretor de redação do Enem 2015



O tema escolhido para a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2015 deixou feministas e esquerdistas em êxtase: “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. Em outubro do ano passado, a escolha gerou uma onda de comemorações nas redes sociais, com direito a provocações como “Machistas não passarão!”, além de esgares de felicidade pela suposta revolução feminista que finalmente teria chegado ao domínio da dispendiosa prova realizada pelo MEC.

Mas a alegria durou pouco. Como pode ser conferido aqui.

Para o desespero de milhares de estudantes que juravam estar diante da oportunidade de se dar bem sendo politicamente corretos, os corretores do INEP demonstraram um surpreendente zelo pela correção das provas por critérios eminentemente técnicos. Nas palavras do entrevistado “O problema não é tanto o tema, mas o desconhecimento ou conhecimento muito parcial de gramática, sintaxe e estilística”. O resultado foi um festival de notas baixas que estão deixando as redes sociais em polvorosa, com feministas reclamando que tiveram suas provas “corrigidas por machistas”, entre outras demonstrações da quase total falência de escrúpulos promovida por uma educação falida. Difícil não rir e chorar ao mesmo tempo.

Confira abaixo a entrevista com um dos corretores da redação. A identidade do entrevistado foi preservada para que este não sofra represálias, muito menos perseguição de feministas ensandecidas por confundirem dissertação com “textão no Facebook”.

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LFV: as redações eram mesmo sofríveis?
Corretor: As sofríveis eram a média. Muitas coisas ilegíveis.

LFV: Tipo "nóis vamus capá o pintu dos homi"?
Corretor: Essa tomaria um zero. Não pode atentar contra os direitos humanos. Mas tem coisa desse naipe, sim.

LFV: Muito textão tipo facebook?
Corretor: Sim, muito lixo. Acharam que só o tema valeria a redação. Continuam escrevendo feito cavalos.

LFV: Bem, o tema era violência contra mulher e foi confundido com "feminismo". Em base foi isso? Essa confusão por si tira nota?
Corretor: Sim, isso deu muito problema. No entanto, não era a fuga ao tema em si. Era um "desvio de rota", apenas. Os estudantes tiram notas ruins no Enem porque não sabem escrever, independentemente do tema. O problema não é tanto o tema, mas o desconhecimento ou conhecimento muito parcial de gramática, sintaxe e estilística. Conhecimentos mínimos, diga-se, não queremos nenhum 'Machado de Assis'.

LFV: Os corretores são bem técnicos mesmo?
Corretor: São. O Ministério que, às vezes, muda as regras no meio da correção.

LFV: Mas teve aquele caso do “Miojo” e do hino de time de futebol...
Corretor: Existia uma diretriz no Inep que dizia que se houvesse texto desconectado (que são esses casos), a redação deveria ser considerada com o desconto do número de linhas correspondentes. Aí deu aquela polêmica com a revista Veja, mas era uma diretriz do Inep, ou seja, quem a corrigiu não agiu errado. No ano seguinte, o trecho desconectado passou a anular a redação. Acho que foi em 2012 para 2013 esse caso, daí a regra mudou. Existe uma seriedade na correção. E até um excessivo zelo, mas que vira palha de acordo com as vontades do governo. Por exemplo, as redações não são corrigidas por uma pessoa apenas. São duas, de pontos diferentes do país, escolhidas pelo sistema. As notas têm de bater dentro de uma margem de tolerância. Se não batem, vão pra terceira banca, ou seja, entra um terceiro corretor. E as notas, acredite, deveriam ser ainda mais baixas, na casa de uns 20% menos.

LFV: Então o MEC pressiona pra dar uma colher de chá pra molecada?
Corretor: O MEC em si não, mas o próprio Inep, que é o responsável pelo exame. No fim do treinamento de dois meses, você acaba entendendo que é para dar uma "aliviada". Isso já vem "embutido" no treinamento. Acho que até rola uma "rivalidade" entre MEC e Inep. O Inep querendo mostrar que é "fodão", essas coisas.

LFV: Que dica você dá para o estudante não se ferrar na redação do enem?
Corretor: Que siga o tema proposto, usando o arcabouço de conhecimento que ele tem, atentando-se à estrutura do texto (dissertativo-argumentativa) e proponha a "solução" que é exigida (a ausência da "proposta de intervenção” tira nota). Olho com o básico de sintaxe e ortografia. Não é muita coisa; é que a educação brasileira está em coma. A redação do Enem não é tão exigente; o nível do alunado que é péssimo.

23 de julho de 2015

Lênin e Stalindo

Lênin e Stalin após experimentarem o beijo gay:
- E aí?
- Aí o quê?
- O que você achou?
- Esquisito, mas revolucionário...
- Um pouco de rebeldia contra a família tradicional é até...
- Interessante...
- Creio que se o mundo ocidental aderir a essa prática rotineiramente...
- Hum?
- ...deu pra sentir a revolta contra a realidade?
- Forçosamente...
- Vamos experimentar mais uma vez então...
- Burguês. Achei burguês. BURGUÊS.
Lenin estanca, inconformado.
- Ce acha mesmo isso, Stalindo?
- Como disse, companheiro?!
- Nada... Ali não é o Trotski dando risada da gente?
- O próprio.
...
- Stalin?
- Diga, Lenin?
- Eu... Sabe, é que...
- Tudo bem. Vou mandar eliminar Trotski.
- Delicia. Você é um fofo."

15 de junho de 2015

Garschagen em Belém do Pará e bloqueio no Facebook (sim, de novo!)





Fui bloqueado na rede social do Zuckerberg, o novo amigo de infância de Dilma Rousseff. Sim, mais uma vez! E como sempre por comentários ditos "homofóbicos". Desta vez fiz uma piada sobre eu ter sido discriminado na loja do Boticário e chamado de "baitola". É isso mesmo: ser "baitola" é bonito, mas contar que foi chamado de "baitola" é ofensivo. Nem as aspas me salvaram. Trinta dias sem poder curtir, comentar ou compartilhar o que quer seja. Censura orwelliana, pura e simplesmente.


Tudo isso 24 horas após compartilhar oficialmente no meu perfil a palestra e o lançamento do livro "Pare de Acreditar no Governo - Por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado", do Bruno Garschagen. Coincidência ou não, o bloqueio prejudica a divulgação deste evento que vem sendo planejado com muito empenho por um grupo de paraenses muito aguerridos e especiais. Esperamos que seja um evento inesquecível para que assim possamos mostrar que Belém merece estar na rota dos grandes lançamentos liberais-conservadores do Brasil. O primeiro de muitos que queremos realizar, seja trazendo lançamentos de livros ou palestras. Sim, tem reaçada na Floresta! E somos cada vez mais!!!

E não vamos nos intimidar. Nem parar. Nem retroceder.

***

Aproveito o espaço para convidar a todos:


PALESTRA - 07 de JULHO de 2015, às 19h, no Espaço da Padaria Caramelada (Brás de Aguiar, 842-B, ao lado do Spazzio Verdi - Nazaré)
LANÇAMENTO/ NOITE DE AUTÓGRAFOS - 08 de JULHO de 2015, às 18h30, na Livraria da Fox (Doutor Moraes, 584 - Nazaré)
Sobre a obra e o autor, leia mais em: http://www.brunogarschagen.com

Entrada franca!!!



10 de junho de 2015

Ordem e sentido em J.R.R. Tolkien e George R.R. Martin.




Escrevi algo semelhante sobre GoT depois que assisti a segunda temporada. Deixei de assistir, mas até onde acompanhei senti o mesmo tédio ao ler sobre a Idade Média em autores marxistas. Como nos livros, vi na série (pelo menos até ali) apenas uma maçaroca ininterrupta de fatos aleatórios sem um fio condutor, tal como o identificado por Voegelin como "o sentido da história". Reitero: não sei se essa "Ordem" é desvelada por trás do caos com o decorrer das temporadas. Não aguentei esperar. O que senti foi exatamente o que o Taiguara Fernandes de Sousa sentiu: NADA. A verossimilhança não passa dos pequenos dramas de alcova, todos atomizados diante de um cenário tão instável como areia movediça, onde nem o bem e nem o mal parecem ter alguma função espiritual. Como nos livros marxistas sobre a Idade Média eu vi apenas luta pelo poder, guerras e guerras, reis que morrem, golpes, revoluções - sem qualquer ordem aparente ou finalidade. Não sei se é porque havia assistido muito recentemente "The Tudors" que, apesar das várias liberdades históricas e estéticas, sempre mostrou naturalmente o ponto de vista divino, o sentido transcendente das ações, como cimento que junta os tijolos do caos. É esse ponto de vista, ainda que meio oculto, que se percebe claramente em Tolkien. Foi o mesmo que percebi em The Walking Dead onde o desespero e a selvageria delineiam claramente a falta de uma Ordem, permitindo que se sinta a presença constante da ausência de Algo. Game of Thrones me pareceu bem condizente com o título: um jogo de tronos, um lance de dados, tal como a Idade Média parece sem o ponto de vista sobrenatural do Cristo e do Corpo Místico na historiografia marxista. Pareceu a mim a Idade Média sem Deus perfeita para quem só enxerga a superficialidade da aventura humana.

Confira o texto do Taiguara:
"Eu estou assistindo a atual temporada de Game of Thrones atrasado.
Contudo, em vista do momento atual, não pude deixar de notar como a religião em George Martin toma duas formas: primeiro, o desleixo mundano; segundo, o fanatismo assassino. Não existe na literatura de Martin até o momento uma religião verdadeira e amiga da razão humana. Ou a religião é instrumento de barbarismo ou o é de puritanismo fanático, que beira ao ódio.
Alguma semelhança com os discursos laicistas atuais?
É curioso, mas essas são justamente as duas únicas formas pelas quais os laicistas modernos conseguem ver a religião - para eles, algo por si irracional. A religião separada do Logos - o Cristianismo é a religião do Logos - abandona a razão e se torna barbarismo ou fanatismo. O Cristianismo é uma proposta contra isso, de uma religião baseada na razão, como Ratzinger gostava de ressaltar.
Em George Martin a razão só pode ser humanista, nunca há uma religião racional. Ela sempre é irracional e, por isso, é transmitida pelo autor nas duas formas acima. Devido a isso, a religião se torna um instrumento de politização e estatização fácil, pois desprovida de sua ligação essencial com a Razão Divina - o "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" não existe.
Eu não sei como a história vai se desenrolar - tenho todos os livros e preferi deixar para lê-los depois de ver a série - mas o autor me parece, até o momento, um autêntico secularista moderno.
Se Tolkien tinha uma literatura profundamente espiritual, em que a ordem natural era essencialmente ordenada pelo Logos de Ilúvatar, a proposta de Martin é [ou parece ser] exatamente o contrário: o espiritual é irracional em si mesmo, a razão pura não admite estas coisas. É por isso que não há um senso de ordenação na obra de Martin: o que acontece hoje, muda imediatamente amanhã; quem está vivo agora, morre no segundo seguinte. A ordem vem da razão e a cosmogonia de Martin é irracional - não há um Logos Divino, a desordem impera absoluta no domínio da Criação. Só a razão política poderá garantir ordem, isto é, o Estado humanista, secular e laico (ou que, ao menos, tenha as religiões sob seu controle).
Digo isso porque muita gente gosta de falar em semelhanças entre Tolkien e Martin, mas, como espectador de ambos (e muito mais tolkieniano que martiniano), eu só vejo dessemelhanças.
Não há duas literaturas mais distintas em sua filosofia, cosmogonia e escatologia do que as de J.R.R. Tolkien e George R.R. Martin."

Leia também o primoroso artigo de Carlos Ramalhete sobre Game of Thrones na extinta Revista Vila Nova.

18 de maio de 2015

Trauma e desejo de punição



Trauma. A 1ª guerra mundial está para a explosão da revolta socialista como o 11 de setembro está para o terrorismo islâmico do século XXI e o irracionalismo da moral biônica da Nova Ordem Mundial. Repare que no fim do século XX também ocorreu um movimento semelhante ao da Belle Époque, tanto em avanço econômico-tecnológico quanto no alastramento de um sentimento de otimismo baseado na virada do século (alguém aí lembra da Era de Aquário que estaria chegando?). Se eu não me engano foi o Otto Maria Carpeuax que identificou um certo excesso de otimismo na literatura modernista do início do século, assim como também um sentimento volátil de que alguma coisa muito ruim estava prestes a acontecer. O universo pop (que foi a 'literatura' de pelo menos a segunda metade do século XX) também padeceu de um excesso de otimismo e de pessimismo semelhante ao do início do século de Lênin. Basta dar uma olhada nos últimos álbuns musicais e filmes da virada do ano 2000 pra perceber que existia uma euforia, e ao mesmo tempo um corvo sobrevoando tudo aquilo. Talvez estejamos diante - mais uma vez como depois da 1ª guerra - de mais uma manifestação da Síndrome de Estocolmo, de desejo mórbido e coletivo de uma punição redentora, disfarçada de um grande avanço de liberdade. Talvez tenhamos mais uma vez sido estuprados e chantageados pelos dedos acusadores e demoníacos dos agitadores desse mundo. Assim o século XX rapidamente passou da Belle Èpoque para a explosão totalitária da política ao redor do mundo; assim o século XXI passou da otimista "Era de Aquário" para o relativismo macabro do Estado Islâmico, da Ideologia de Gênero e do Transhumanismo. O Olavo de Carvalho mesmo diz no Jardim das Aflições que é impossível explicar o século XX sem compreender o papel diabólico das grandes manipulações mentais de massa nos acontecimentos do período.

17 de maio de 2015

Simulacro e simulação



Tem uma coisa que todo mundo aqui na internet, nas redes sociais, anda esquecendo: isso é tudo SIMULACRO e SIMULAÇÃO.
Eu não sou o que sou aqui e você não é o que está aqui. Na vida real eu sou algo bem melhor do que está aqui, mas também algo bem pior do que está aqui. Você também é algo melhor do que está aqui, e também algo bem pior do que está aqui. Essa é a verdade. Toda amizade é incompleta. Quase toda briga aqui inútil, patética, porque até a ofensa de alguém que não existe contra alguém que é fumaça e papelão é incompleta sem o respectivo crispar de mãos e sangue nos olhos.
Parem de fingir que a verdade da vida está aqui no Facebook, ou no Twitter, ou no Whatsapp, pô! Isso aqui está machucando vocês, falsificando vocês, enganando vocês. Esse teatro todo não dá conta da complexidade de cada um de vocês. Jamais troquem laços fortes e verdadeiros com os que possivelmente possam ser feitos nesta maravilha da modernidade chamada internet. Nada ainda substitui o olho no olho, o ombro a ombro, a companhia do outro - especialmente nas batalhas do dia-a-dia. Um amigo só se reconhece no dia-a-dia, um filha-da-puta também
É por isso que hangouts me dão um sono. Quando os caras ainda estão um aqui no meio da floresta, outro em SP e outro na Virgínia ainda compreendo; mas hangout de marmanjo na mesma cidade é o cúmulo da pau-molice de moleque de condomínio. Ah, vá! Não acredito em movimento intelectual/político sem rodadas de cerveja, sem amigo acudindo o porre do outro, sem flerte com a amante alheia, ou possibilidade de briga às três horas da manhã. Nem acredito em movimento intelectual/político de mulheres que não se encontram, que não fofocam juntas, que não falam do pau do marido umas para as outras, ou que não trocam receitas de como criar os filhos e preparar a janta.
Sei que é uma merda não pertencer a um mundo onde a esquerda lobotomizou a quase todos. Sei que é uma merda às vezes viver numa cidadezinha onde você não tem nem com quem conversar. Mas não deixem o limbo em que vocês se meteram destruir quem vocês são. Haverá decepções? Sim, haverá. Mas existirá menos solidão, menos desespero virtual; seja por vaidade, seja por auto-afirmação. E certamente haverá mais mudanças reais no que deixa a todos indignados.
Chegou o tempo das canecas quebradas! Chegou o tempo de quebrar bar!