31 de maio de 2013

Nero Redivivus


É mais comum sentir compaixão pela condição existencial de um homossexual ao ouvir as duras admoestações de um pastor evangélico do que sentir ódio. Até mesmo um carrasco ou carcereiro deve sentir uma ponta de dó em relação aquele que é condenado de forma tão irreversível; dirá o que não sente um homem comum diante dessa radicalidade. Por isso mesmo a invectiva fatalista bíblica move mais à oração do que ao ódio, e move fortissimamente justamente por sua aparente irreversibilidade. A militância gay, na melhor tradição do marxismo cultural, finge não saber disso. E, na melhor tradição revolucionária, 'acusa os outros do que faz' - ela sim, condenando implacavelmente as vozes dissonantes ao isolamento total com uma autoridade artificial respaldada pelas armas do Estado todo-poderoso. Enxerga autoritarismo em toda parte porque só enxerga sua expressão através do autoritarismo. Aqueles que dizem lutar em nome do amor deveriam orar pela suposta ignorância dos Felicianos da vida. Ingenuidade minha; na metafísica gay nem mesmo o falecido deputado Clodovil merece alguma misericórdia: agoniza eternamente no inferno dos que sofrem com 'homofobia internalizada'. As ideologias não perdoam jamais os seus insubordinados. O Deus judaico-cristão pode até ser cruel, mas o seu povo reza para aplacar-lhe a fúria. Onde estão os gays dispostos a aplacar a fúria de um Jean Wyllys?

Existe alguma outra forma mais eficiente de elevar a enésima potência o ódio aos gays do que transformá-los em uma casta? Não conheço. Não é à toa que a cultura popular odeia políticos e bandidos armados até os dentes. Não é por menos que o ódio maior é o ódio de Lúcifer contra o inabarcável poder do Criador. E que povos inteiros enlouqueceram de ódio pelos Césares do Império Romano. O antiamericanismo que a cultura moderna respira como oxigênio é outra prova eloquente dessa equação. Se existe algo que atiça o ódio é o poder, em especial a disparidade no poder de se exercer o poder. 

O poder autoritário do vitimismo pode então até ultrapassar os próprios instrumentos desse mesmo Estado. Para a parada gay de SP, a polícia militar ouvirá dicas para abordar gays e travestis. Terão que aprender coisas como a não se acotovelarem entre si ou que não devem se incomodar com eventuais beliscões e cantadas devido 'ao fetiche exercido pelo fardamento'. É proibido rir, chocar-se ou indignar-se, e expressar, ainda que de forma discreta, a apreensão de algo que possa simplesmente vir a ser 'engraçado' ou 'pitoresco'. A luta gay é pela liberdade de expressão, é claro. A dos policiais de se expressarem como robôs obedientes. Se algo assim pode ser exigido dos agentes estatais o que não será exigido um dia da dona Marcelina lá da periferia que vai ao culto todos os fins de semana? Qual a diferença de exigências como estas das exigências de um César ou de um cortejo de um monarca absolutista? Ou dos caprichos de uma Rainha de Copas? Enquanto os gays se divertem fingindo-se de oprimidos, ao mesmo tempo em que dominam a cultura humana com os seus símbolos na moda, na música, no cinema, no teatro, na literatura, no mercado publicitário, etc, as famílias francesas apanham da polícia nas ruas de Paris.  

Com o tempo isso semeará um ódio irracional perigoso. O poder desmesurado logo torna-se veículo para desencadear as mais diabólicas forças. Uma vez odiados por toda a gente, os gays exigirão - como exigiram desesperadamente todos os tiranos - o amor das vítimas do seu poder. Como a militância homossexual não conhece limites, certamente pedirão coisas ainda mais absurdas para a sociedade, em uma espiral decadente de loucura e destruição, principalmente da sanidade deles próprios. Afinal, um direito ao livre usufruto das partes e possibilidades íntimas jamais se afirmará como uma autoridade legítima. Então nem a literatura poderá prever as insanidades que virão.

Destaco o trecho do excelente e imperdível artigo de Justin Raimondo:

"Os líderes do movimento gay estão brincando com fogo. A grande tragédia é que não serão eles os únicos que sairão queimados. A volatilidade dos temas que eles vêm levantando – temas que envolvem religião, família e as mais elementares premissas do que é ser humano – cria o risco de uma explosão social pela qual eles devem ser responsabilizados. A ousadia da tentativa de se introduzir um “currículo homossexual positivo” nas escolas públicas, a postura de vítimas militantes que não toleram qualquer questionamento, a intolerância brutal que se segue à tomada do poder pelos homossexuais em guetos urbanos como São Francisco – tudo isso, somado ao fato de que o próprio paradigma dos direitos dos homossexuais representa uma intolerável invasão da liberdade, tende a produzir uma reação da maioria."

O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente. Silas Malafaia vira herói da liberdade de expressão. E Jean Wyllys não consegue arrumar um namorado.

*imagem do filme Saló, do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini.