18 de maio de 2015

Trauma e desejo de punição



Trauma. A 1ª guerra mundial está para a explosão da revolta socialista como o 11 de setembro está para o terrorismo islâmico do século XXI e o irracionalismo da moral biônica da Nova Ordem Mundial. Repare que no fim do século XX também ocorreu um movimento semelhante ao da Belle Époque, tanto em avanço econômico-tecnológico quanto no alastramento de um sentimento de otimismo baseado na virada do século (alguém aí lembra da Era de Aquário que estaria chegando?). Se eu não me engano foi o Otto Maria Carpeuax que identificou um certo excesso de otimismo na literatura modernista do início do século, assim como também um sentimento volátil de que alguma coisa muito ruim estava prestes a acontecer. O universo pop (que foi a 'literatura' de pelo menos a segunda metade do século XX) também padeceu de um excesso de otimismo e de pessimismo semelhante ao do início do século de Lênin. Basta dar uma olhada nos últimos álbuns musicais e filmes da virada do ano 2000 pra perceber que existia uma euforia, e ao mesmo tempo um corvo sobrevoando tudo aquilo. Talvez estejamos diante - mais uma vez como depois da 1ª guerra - de mais uma manifestação da Síndrome de Estocolmo, de desejo mórbido e coletivo de uma punição redentora, disfarçada de um grande avanço de liberdade. Talvez tenhamos mais uma vez sido estuprados e chantageados pelos dedos acusadores e demoníacos dos agitadores desse mundo. Assim o século XX rapidamente passou da Belle Èpoque para a explosão totalitária da política ao redor do mundo; assim o século XXI passou da otimista "Era de Aquário" para o relativismo macabro do Estado Islâmico, da Ideologia de Gênero e do Transhumanismo. O Olavo de Carvalho mesmo diz no Jardim das Aflições que é impossível explicar o século XX sem compreender o papel diabólico das grandes manipulações mentais de massa nos acontecimentos do período.

17 de maio de 2015

Simulacro e simulação



Tem uma coisa que todo mundo aqui na internet, nas redes sociais, anda esquecendo: isso é tudo SIMULACRO e SIMULAÇÃO.
Eu não sou o que sou aqui e você não é o que está aqui. Na vida real eu sou algo bem melhor do que está aqui, mas também algo bem pior do que está aqui. Você também é algo melhor do que está aqui, e também algo bem pior do que está aqui. Essa é a verdade. Toda amizade é incompleta. Quase toda briga aqui inútil, patética, porque até a ofensa de alguém que não existe contra alguém que é fumaça e papelão é incompleta sem o respectivo crispar de mãos e sangue nos olhos.
Parem de fingir que a verdade da vida está aqui no Facebook, ou no Twitter, ou no Whatsapp, pô! Isso aqui está machucando vocês, falsificando vocês, enganando vocês. Esse teatro todo não dá conta da complexidade de cada um de vocês. Jamais troquem laços fortes e verdadeiros com os que possivelmente possam ser feitos nesta maravilha da modernidade chamada internet. Nada ainda substitui o olho no olho, o ombro a ombro, a companhia do outro - especialmente nas batalhas do dia-a-dia. Um amigo só se reconhece no dia-a-dia, um filha-da-puta também
É por isso que hangouts me dão um sono. Quando os caras ainda estão um aqui no meio da floresta, outro em SP e outro na Virgínia ainda compreendo; mas hangout de marmanjo na mesma cidade é o cúmulo da pau-molice de moleque de condomínio. Ah, vá! Não acredito em movimento intelectual/político sem rodadas de cerveja, sem amigo acudindo o porre do outro, sem flerte com a amante alheia, ou possibilidade de briga às três horas da manhã. Nem acredito em movimento intelectual/político de mulheres que não se encontram, que não fofocam juntas, que não falam do pau do marido umas para as outras, ou que não trocam receitas de como criar os filhos e preparar a janta.
Sei que é uma merda não pertencer a um mundo onde a esquerda lobotomizou a quase todos. Sei que é uma merda às vezes viver numa cidadezinha onde você não tem nem com quem conversar. Mas não deixem o limbo em que vocês se meteram destruir quem vocês são. Haverá decepções? Sim, haverá. Mas existirá menos solidão, menos desespero virtual; seja por vaidade, seja por auto-afirmação. E certamente haverá mais mudanças reais no que deixa a todos indignados.
Chegou o tempo das canecas quebradas! Chegou o tempo de quebrar bar!

16 de maio de 2015

"American Sniper" - Viver não é para covardes




Assisti o "American Sniper". Finalmente! Cru e direto, como quase todos os filmes do Clint Eastwood. Não é que seja simplista (são os críticos esquerdistas que estão demais tarados por contextualizações políticas de filmes engajados), mas sim a sabedoria do 'velho caubói' que está ali sem enrolação: alguém tem que fazer o 'mal' que não quer para que o bem prevaleça nesse nosso vale de lágrimas. 


Como todo conservador que se preze, o velho 'old man' de Hollywood não se engana e não quer enganar: existem ovelhas, cães e pastores. Parece simples? É. Mas não é. O resto é conversinha pra 'sissys' esquerdistas fazerem de conta que controlam alguma coisa, de que podem sonhar em abolir a realidade que assustou até o próprio Cristo ("E livrai-nos do Mal"). O conservador não espera a realidade vir até ele como um ladrão, mas vai buscar o touro pelas unhas. 

O homem que não tem medo de viver e fazer o que tem que fazer (porque não se ilude com a promessa utópica da felicidade terrena imanente), também pensa assim o amor. O soldado Chris Kyle também não hesitou em 'montar e pegar pelos cornos' a mulher desejada; não há tempo para sonhar, para idealizar a pessoa amada; só há tempo para amar, e para amar intensamente. Assim como não há o tempo para amar a Deus, ou a pátria. Ou decidir entre uma bala na cabeça de um terrorista ou a morte dos amigos. E Chris Kyle viu em vida esse amor ser devolvido, apesar de todos os aborrecimentos que teve com o trauma da guerra e com a difícil compreensão da sua vocação por parte da sua família e dos seus compatriotas. Mesmo assim, o demônio que o ceifou estava ali na primeira esquina para tirar-lhe a vida, 'pelo fio da espada' como é o destino da grande maioria dos guerreiros, na sua estranha e misteriosa dignidade.

Essa obra-prima de Clint Eastwood é como a espada que o samurai desembainha, ou a pistola do caubói uma vez tirada do coldre: é para matar de vez ao menos uma das muitas dúvidas sobre o que signifique viver esta vida: viver não é para covardes.

3 de maio de 2015

"Interstellar", de Christopher Nolan - a salvação da humanidade pela ciência




O talento do diretor está lá: a montagem de tirar o fôlego, a fotografia quase documental, a direção de arte caprichada, os efeitos visuais realistas, a sutileza da trilha de Hans Zimmer... e a escritura algo desesperada, embora genial, do roteiro que sempre escreve com o seu irmão Jonathan Nolan. A dupla de roteiristas/diretor consegue uma coisa difícil de arrancar hoje do público médio de hoje: uma paciência extrema do público com as suas temáticas, que o faz engolir sem reclamar elipses narrativas colossais, numa aposta constante na inteligência do espectador (o espectador que cansa dos filmes de Nolan é aquele que quer tudo mastigadinho, sem a capacidade de preencher os 'buracos negros' da narrativa com conhecimento prévio do tema discutido na tela, e claro, um pouco de imaginação). Ele exige também, ainda que de forma um pouco mal-educada, MUITA paciência.


A metodologia de Nolan de escrever/dirigir filmes parece mesmo inspirada na mecânica de uma viagem interestelar: ele lança um foguete rumo ao nada, vai abandonando módulo após módulo em sucessivas arrancadas, acopla para iniciar uma viagem à velocidade da luz, coloca-nos em animação suspensa, até nos acordar e finalmente nos convencer do que bem entender, deixando-nos a flutuar pelo desconhecido - afinal, já realizamos uma jornada praticamente sem volta. Foi assim em Memento, na Trilogia Batman e em Inception. Sem tempo para pensar demais, somente para escolher entre 'continuar sonhando' ou abandonar a sala de projeção, o espectador logo se vê imerso na linearidade inversa do filme estrelado por Guy Pearce, na sociologia fantástica de Gotham ou na metafísica onírica do mundo dos sonhos de Leonardo DiCaprio. Ora, é cinema, 'Rapid- Eye-Movement', 'sonhar acordado'. Christopher Nolan sabe que lida com viciados em um mundo de fantasia. 

"Interstellar" insere-se na tradição de filmes de viagens espaciais em algum lugar no meio de um gráfico que bolei que tem numa ponta a mitologia Star Trek e noutra a saga Alien - o mais radical otimismo sobre o espaço e o destino da humanidade no cosmos, também presente de alguma forma na saga Star Wars de George Lucas; e o pessimismo fatalista e 'nietzschiano' da saga de Ridley Scott, no qual o universo exterior só reserva morte e desespero.

O filme de Nolan já é pessimista pelo pano de fundo da aventura através da visão de uma Terra em franco processo de destruição via desastre ambiental. O ser humano é uma praga, um gafanhoto, a outra ponta de um processo desastroso - iniciado por Deus ou pelo acaso que seja - , uma anomalia, uma bizarrice sem lugar nem conformação alguma na natureza, uma aberração ecológica. Ora, essa é toda a implicação ontológica do ambientalismo: se o homem destrói o planeta por seu simples processo de ser homem, Deus errou. Ou Ele não existe, pura e simplesmente. E se existe há de nos colocar à beira da extinção obrigando-nos a buscar uma nova morada nas estrelas. Seja lá o que for que nos transformou em homens sapiens capazes de praticar capitalismo e construir indústrias poluidoras, errou feio em nos tirar da condição de macacos fofos e harmônicos. Calma, é Nolan, relax and dream...

Em suma, 'nolanamente' somos jogados em uma jornada que - de elipse em elipse, como de costume - nos transporta a conceitos como 'singularidade', 'hipercubos', 'buracos de minhoca', etc. Se 'nolanamente' o autor/diretor coloca "o amor" pra cimentar tudo o que com muita dificuldade encontra algum liame, nada mais evidente do seu talento hollywoodiano de fazer parecer palatável algo tão complexo como Teoria da Relatividade. E tudo muito 'nietzschiano', claro; com o Eterno Retorno ali substituindo qualquer tentação de se falar em Causa Primeira, Criador, Deus, que seja. Todas as 'coincidências' são auto-geradas pela ação do próprio homem. Tudo muito cientificamente correto, com uma ajudinha do Amor e dos laços familiares. Pessoalmente, aprecio mais a honestidade do 'Prometeu' do Ridler Scott (apesar dos clichês terríveis), bem menos preocupado em dar respostas para tudo.

No gráfico que proponho, "Interstellar" certamente orbita ali pelo meio: pessimista na premissa, mas algo otimista nas possibilidades de sobrevivência do homem, ainda que por meio exclusivo da ciência e da tecnologia, mesmo que estas sejam também a causa da ruína da espécie humana com a sua necessidade de exaurir os recursos do planeta. Podia ser um samba do crioulo doido, mas não é: é Nolan. E você é um viciado em cinema. Você é um viciado em sonhar acordado por duas a três horas, mesmo que tudo faça pouco ou nenhum sentido. E Nolan tem sido um dos melhores fornecedores de entorpecimento cinematográfico dos últimos tempos.

1 de maio de 2015

Papagaio sem pirata



O conservador acha que se se comunicar com a alma do brasileiro é tarefa quase impossível. Não é não. O problema é que o conservador que não tem preparo pra lidar com o povo brasileiro. O conservador brasileiro não é um homem prático, pois vive numa bolha do conservadorismo europeu. Até os liberais estão crescendo mais no Brasil porque vivem menos na bolha que criaram em torno de si. O liberal encontrou ao menos uma conexão com o povo: a paixão de empreender dos brasileiros e a indignação crescente com os altos impostos em contraste com péssimos serviços oferecidos pelos Estado. É um começo para quem já sonha com representações políticas. Já o conservador esnoba a cultura brasileira como se tudo fosse simplesmente lixo. Muitos são incapazes de experimentar até uma comida típica ou comer um churrasco com os amigos, um blasé de vinhos caros e de cachimbos sem fim. Não pense que o conservadorismo britânico ou americano foi um caldeirão de idéias isolado da cultura britânica ou americana. Pelo contrário, esteve e está imbricado nas suas culturas. Em oposição, o conservador brasileiro ignora um Ariano Suassuna, por exemplo, porque o cara disse que já votou no PT. É simplesmente RIDÍCULO. O conservador brasileiro é, muitas vezes, um papagaio sem pirata.