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27 de março de 2015

Só quero fazer teatro com gente normal

Ainda tenho o sonho de fazer teatro com gente normal. Explico o 'gente normal'. Sonho em fazer teatro com gente que vê a arte como busca da verdade e da beleza, que entenda o gesto bondoso de interpretar a realidade dos homens e da vida, e que se doe ao ser com intensidade.
Não busco um teatro de 'direita', não é isso; mas sim um teatro direito, honesto, feito por pessoas interessadas em ser 'monstruosas' no sentido shakesperiano do termo, que saibam ler o que escreve o amor calado: ouvir com os olhos é do amor o fado', como disse o Bardo.
Não busco o teatro feito por aqueles putos/putas mimadas que buscam nos palcos somente alguma notoriedade boba ou monstruosidade mal escrita para 'chocar a sociedade conservadora'.
Desprezo os artistas dito progressistas, que entre uma péssima atuação e outra vão prostituir a arte na luta-do-contra-tudo-que-está-aí-está através de dramaturgias forçadas, enfeitadas apenas com sinopses que pretendem não deixar ao espectador experiência de descoberta alguma, mas somente doutrinação panfletária para dizer o quanto são vítimas por serem pretos, mulheres ou adeptos de amores e esfregações heterodoxas, whatever, para que a platéia se entedie e continue a apoiar partidos políticos que vão jogar algumas migalhas para esses pobres incompreendidos que vivem sem dinheiro pra pagar uma cerveja.
Desprezo os ditos artistas interessados na sutileza e na subjetividade na arte como caminho fácil para juntar um grupo de ativistas ou militantes de qualquer coisa; seja para salvar as baleias, ou jovens em situação de risco, ou gente carente de ter onde desmunhecar ou de dizer pra vizinha o quanto é descolado.
Desprezo, acima de todas as coisas, o teatro dito experimental que aglutina apenas relatos de adolescentes confusos e ingênuos que confundem o desejo legítimo deles de dar a bunda e serem felizes com verdadeira inspiração artística, como se a intenção e o engajamento da obra fossem tudo, e a técnica e a forma não fossem nada. A criação coletiva - quando muleta do analfabetismo - é a decadência do teatro, a invasão bárbara que transforma anfiteatros em feiras de venda de animais.
Não que o teatro deva deixar de ser - como aliás foi e deve continuar sendo - a jóia de ouro da liberdade de expressão. Não. O teatro deve continuar a ser o aríete silencioso contra todas as imposturas, preconceitos, lugares-comuns, clichês, velhacarias, etc; mas com o respeito a inteligência dos seus espectadores - que antes de ver representadas as suas indignações - querem fazer parte do drama humano e da comédia de erros, querem descobrir por si, verter lágrimas e rir, sorrir e pensar, não simplesmente SABER O QUE ELE TEM QUE PENSAR AGORA PRA SER UMA PESSOA DITA LEGAL E ANTENADA. Existe uma diferença imensa em ser polêmico como Brecht ou Nelson Rodrigues, ou ser polêmico como Jean Wyllys ou Luciana Genro.

19 de março de 2013

Fist Fucking



A obra é interessante. Mas é um sintoma dos nossos tempos - como Lady Gaga. Perspicaz a opinião da Sarah Fernandes de que "o título da minha dúvida deixa mais ou menos claro que a obra abaixo está mais próxima à representação de uma época onde o homem puxa o próprio saco e casa-se com o próprio espelho em favor da "própria liberdade", do que uma representação que possa gerar contemplação"

Exatamente. Não parece ser uma obra que busca inspirar virtudes em primeiro lugar, mas espelhar um 'zeitgest', um estado de coisas. Se a arte há de ser bem-feita ou mal-feita, jamais boa ou má em si, como insinuou Oscar Wilde, podemos dizer que ela consegue o seu intento.

Li em um antigo ensaio da Revista Bravo um insight bem interessante sobre a arte que se diz contemporânea, tão bem expressa em suas excentricidades na Bienal de São Paulo. Sobre a Bienal paulista de 98, disse Teixeira Coelho: 


"Recordo conto de Borges sobre o cartógrafo que desenhava um mapa tão abundante que o tamanho do papel era o mesmo do terreno representado: escala um por um. Essa fábula serve como imagem de parte da arte contemporânea, herdeira renitente de uma sociedade da abundância já finda e que não faz economia de meios - acaso não de propósito, mas por deficiência representacional. Esses ambientes constroem-se por metonímia (aproximação no espaço entre um signo e outro, uma coisa e outra), enquanto a grande arte ainda seja ainda aquela que procede da metáfora, substituição da coisa por um signo. Metáfora, operação que cria, versus metonímia, operação que combina o já existente."


Não sei vocês, mas gosto da instalação acima. Gosto de pensar que o Dragão passou e deixou no caminho um rastro de homens orgulhosos de achar que tudo podem dar a si, nem que seja a boa e velha fellatio (do qual escutei uma vez chamarem-na de 'o apogeu do sexo'). Recordou-me uma peça bem polêmica de Newton Moreno, levada aos palcos por Renato Borghi e Élcio Nogueira Seixas, onde dois homens encontravam-se para praticar o fist-fucking (prática de penetrar o alheio com o punho). A peça, muito bem escrita e representada, mesmo levando a risos nervosos, tinha um quê melancólico de metaforização da busca do homem por um sentido mais profundo (ui!), acessível para muitos apenas como perversão sexual.

Nunca esqueçam que há mais nus hoje na Capela Sistina do que em Hollywood.

Agora comparem a obra abaixo com a que eu vi na Bienal de São Paulo do ano passado, tortura que apreciei na companhia do meu querido cicerone Francisco Souza. Um carrinho de brinquedo batendo contra um pedaço 
de bolo sob uma tábua mais ou menos inclinada.





Comentem com moderação...

15 de janeiro de 2013

"Fogo Cruel em Lua de Mel" da Cia Fé Cênica



Primeira montagem do grupo, o espetáculo "Fogo Cruel em Lua de Mel", com texto de Nazareno Tourinho, abriu a cena teatral deste ano na capital paraense. A Cia Fé Cênica comemora seis anos de atividades na cidade de São Paulo montando autores do estado do Pará, tendo já encenado peças de Saulo Sisnando e Carlos Correia Santos. Tive a honra de ser convidado para a nova estréia da peça em Belém, onde também compareceu, o ilustríssimo Nazareno Tourinho, que com 78 anos de idade ainda faz questão de assistir o que andam fazendo com os seus textos.

Sobre Nazareno, o site G1 resume:

"Nazareno Tourinho tem 78 anos, é jornalista e um dos dramaturgos mais atuantes na cena paraense. Integrante da Academia Paraense de Letras, publicou várias de suas obras e foi premiado em concursos nacionais e internacionais, como, o IV Concurso de Dramaturgia Latino-americano Andres Bello, realizado na Venezuela."


Para saber mais, a UFPA tem uma página com a sua biografia.


Do Nazareno tomei leitura das peças Lei é Lei e Está Acabado, Severa Romana, Fogo Cruel em Lua-de-Mel, Amor de Louco Nunca é Pouco, A Greve do Amor e Uma Caprichosa Manifestação de Espíritos. Infelizmente ainda não li a peça que dizem ter sido muito elogiada por Gerald Thomas, "Pai Antonio", e por incrível que pareça, também não li a mais famosa, "Nó de 4 pernas", que inclusive foi montada em 2012 por jovens atores e diretores da Escola de Teatro da UFPA. 


O que tenho a dizer sobre a dramaturgia de Nazareno Tourinho são três impressões fortíssimas que sempre causaram imenso prazer a este que vos escreve: um texto ágil como uma partida de pingue-pongue, monólogos capazes de consagrar atores e a extrema sensibilidade na construção de personagens que começam sempre como arquétipos e terminam desviscerados em assustadora humanidade. 


Sempre parece que Nazareno quer julgar as personagens, mas, no meio do caminho de sua escrita (que alcança momentos de um lirismo arrebatador) ele as vai escutando, acalentando, namorando e, finalmente, amando e perdoando. Tenho que confessar que acho Nazareno uma figura enigmática: é espírita, assumidamente comunista e, como espera-se dos artistas verdadeiros, com uma obra que ultrapassa todas essas preferências. Não é a toa que foi comparado com Ariano Suassuna, um mestre da dramaturgia - arrisco dizer - mundial, outro que não ligava para 'realismo socialista' ou coisa parecida. Bons tempos em que a esquerda contemplava o mundo e transformava isso em arte - nem sempre boa, nem sempre má, mas com sinceridade. Hoje tudo virou sinopse acadêmica para jantares inteligentes. 


Adiante com o espetáculo.


"Fogo Cruel em Lua de Mel", segundo o G1: 


"é situada na noite de núpcias de Gil e Elza, que se casaram após onze anos de namoro.  O que poderia ser uma noite de amor acaba se tornando o momento em que as personagens discutem as diferenças de personalidade. Um incêndio no hotel e a possibilidade da morte fazem com que as personagens revejam os seus valores, o que muda o rumo de toda a peça. As personagens vivem momentos de grande contradição quando desconfiam que possam morrer em uma situação que é inusitada, mas que é possível."


Ela é psicóloga e cristã praticante, ele um poeta declaradamente ateu. A recém-casada prometeu a Santo Antonio o absurdo: que morreria em castidade se ela finalmente casasse com o noivo Gil. A revelação disso no leito nupcial, após todas as tentativas de 'acasalamento', deixa o marido de Elza furioso. Este começa a fazer chacota da fé da esposa e principalmente, do santo casamenteiro, também começando a beber e a tratá-la grosseiramente  No entanto, Elza é inflexível ao ponto de dormir agarrada com o santo e Gil está prestes a anular o casamento. Eis que o incêndio tudo muda. Presos no edifício em chamas, concluem que não escaparão com vida e entram em pânico. Acontece o impensável. Gil, com medo de morrer, exige que a esposa, a qual julga plena da graça de Deus, reze para que um milagre aconteça. Elza, surpreendentemente, recusa o convite para rezar e passa a exigir que o marido se comporte como homem e a salve. Em pouco tempo, incêndio piorando, a situação inverte-se completamente: o poeta ateu confessa seus pecados e redescobre o mistério da existência; a psicóloga carola lamenta todos os prazeres que perdeu na vida e tenta seduzir o marido. Mas ele, Gil, não quer mais o corpo da mulher. Ambos queimam. Gil implorando misericórdia e Elza implorando por sexo. O fogo toma conta do cenário e se encerra a peça.


O texto do Nazareno é deliciosamente direto, sem enrolação nem pedantismo, um presente para os atores. E o ator Geraldo Machado parece ter percebido bem isso. O ator paulistano, apesar de apressar as falas no início, foi entregando-se ao jogo e atingiu o que se espera dos preciosos monólogos da peça: entrega total. Ao contrário, a atriz Viviane Bernard, teve uma estréia ruim, nervosa, facilitada (ou dificultada?) pela natureza mais contida da personagem Elza. Geraldo Machado queimava com beleza no ato final; Viviane perdeu a oportunidade de se deixar queimar e desvelar a todos a hipocrisia da personagem.


Esperava mais da direção do Claudio Marinho nesse espetáculo. Não entendi por que um texto tão gostoso sofre tanto desperdício em cena. A tendência do ator é 'metralhar' o texto e resolver a cena da forma mais confortável. Peças com casais trazem raras oportunidades para diretores trabalharem pequenos gestos, atos falhos, olhares discretos, contradições sentimentais, pudores. Não sei se por que era estréia depois de três anos, mas parece que a direção não voltou a deitar naquela cama com eles. Tinha-se pressa até de olhar pelas janelas. Na verdade, tinha-se pressa de tudo. Tanto que o espetáculo acabou e um casal de amigos ao meu lado - que estava se divertindo - disse, espantado: "Já?" A direção, no entanto, acerta na escolha de Sonia Lopes - milagreira da luz na cena teatral paraense - e nas soluções do cenário: simples, sem tirar o foco do texto. 

O texto do Nazareno (e também o de Carlos Correia Santos, dramaturgo paraense que já critiquei aqui no blog) tem um dom incrível: mesmo que você pouco ou nada faça para dirigi-lo, ele funciona graças a sua estrutura impecável. As peças do Nazareno vão além: ensaiam perfeitamente uma síntese, uma antítese e uma tese que - milagrosamente - fica suspensa como nuvens sobre os ouvintes, eternizando-se na platéia. Essa dialética o Partidão não vigia por pura incapacidade de abstração. Graças a Deus. Nazareno, sim, merecia o nome de uma rua, uma bonita.


Faltou Fé Cênica. Da atriz no ator, de ambos na direção, da direção em Nazareno. Naquela cama todos têm que arder no final
.





















11 de agosto de 2012

Do porquê que o Teatro me fez crer em Deus



Esta imagem das Olímpiadas que vi pela internet deixou-me especialmente emocionado. Postei no Facebook essa imagem com o comentário de que "Todo sonho alcançado vem do triunfo da Inocência". Logo recordei uma história pessoal.

Tenho que assumir que compartilho com o grande Nelson Rodrigues a opinião que ele tinha de si:

"Aos 18 anos eu era de uma ignorância enciclopédica"

Não que ela tenha diminuído, é claro, mas a minha superava a Barsa e a Enciclopédia Britânica juntas. Nelson já escrevia em jornais. O máximo que fiz quando adolescente foi escrever poemas mimados e servir de cobaia para experimentos de engenharia comportamental da MTV.

Foi exatamente aos 18 anos que comecei a fazer teatro. Comecei como um hobby, uma ocupação passageira para uma folga da universidade de Psicologia. E talvez pela oportunidade de ter tido bons mestres (além de ter um ego do tamanho do mundo), logo me deparei com duas dificuldades perturbadoras: nunca havia lido nada de importante na vida e tinha uma secura de imaginação. Meu ego juvenil - intoxicado de 'poder jovem' -, é claro, não suportava essa limitação. Eu estava pronto. Eu era "da geração que iria mudar o mundo". Desnecessário dizer que não acreditava em nada que não fosse eu mesmo; Deus então, nem passava pela minha cabeça. Eu era o adulto primordial, a besta metafísica que tinha no umbigo a consumação dos séculos.

O que acontecia era que simplesmente eu não tinha sobre o que falar em cena. Meu universo era tão somente a TV, as conversas entre amigos sobre a TV e, no máximo, livros que comentavam sobre algo que passava... na TV. Como eu não sabia ler nada que ultrapassasse uma Super Interessante, o simples contato com uma personagem de Nelson Rodrigues, ou uma estrofe de Shakespeare ou um verso misterioso de Eurípedes revelava-se uma tarefa humilhante.

Claro que tive alguma sorte. Meus professores de teatro (os grandes Ronald Bergman e Paulo Santana) jamais me estimularam a fazer o que chamam hoje de 'dramaturgia pessoal' (que, na minha opinião, não passa de uma muleta para atores semianalfabetos incapazes de entender uma ordem inversa, e que, assim usam um termo quase-acadêmico para disfarçar sua total incapacidade de se alçar ao 'sentimento do mundo') Não. Meus professores queriam que eu compartilhasse da mesma essência teatral a qual eles tiveram acesso e que arrisco a dizer que era e ainda é a mesma transmitida ininterruptamente, via mestre e discípulo, através destes 2500 anos: a verdade teatral que surge da brincadeira e da infância.

E essa postura essencial não era a que eu trazia para os meus ensaios. Eu queria - como na tal 'dramaturgia pessoal' - falar do "MEU mundo". Achava que todas as técnicas de palco serviam apenas para o mundo tivesse finalmente a oportunidade de conhecer Luiz Fernando Vaz.

Meu primeiro contato com a essência do teatro se deu ainda no meu primeiro espetáculo. E quis a bondade divina que fosse um Auto de Natal. Na peça, eu interpretava um pastor daqueles que estão entre os primeiros a ser visitados pela Estrela. Nas coxias, aguardando para entrar em cena, aconteceu o milagre que prendeu-me ao teatro. Fiquei tão mesmerizado quando ligaram os refletores que estanquei como uma mula.

Ali, enquanto era empurrado para o palco pelos outros atores, percebi instantaneamente toda a dimensão da minha ignorância naquele theatro mundi e neste palco outro em que vivemos: JAMAIS tinha visto uma peça em toda a minha vida. Jamais havia contemplado NADA na minha vida que não fosse eu próprio. A primeira vez que estava 'vendo' uma peça eu ESTAVA nela e - porca miséria! - estava ali esperando que o mundo contemplasse a mim. Errando a música e a coreografia, voltei a perceber aquilo que a criança percebe automaticamente quando chega a este mundo: que é necessário estender-lhe os braços não como quem oferece, mas como quem pede. Diante do público que me cravava os olhos, percebi que é preciso receber algo para ter o que oferecer. Mais tarde encontraria em Stanislavski essa certeza que para se doar é preciso primeiro se possuir. Finalmente, no final da peça, a atriz que representava a Virgem Maria levantou o Menino Jesus para que todos O adorassem. Então tive a certeza absoluta do que havia perdido: a Inocência.

Repentinamente, eu não era ninguém mais neste mundo e nem naquele outro que se abria por trás das cortinas. Como um bebê, estava totalmente desnudo e vulnerável. Mais uma vez. Foi então que percebi que jamais seria um ator se não me permitisse a brincar e ser como o pequenino que arregala os olhos perante às maravilhas do mundo.

Mas não; já tinha amarrado uma pedra de moinho no pescoço e me afogado nas profundezas do mar. Já tinha feito tropeçar o pequenino que eu era e agora ele jazia sob o peso do mar, sob o peso inteiro do mundo, incapaz de voltar à superfície - esquecido, abortado, morto.

O deus do teatro não é Dioniso, é o Menino Jesus. Dioniso podia ser como uma criança ao embriagar-se, mas o Menino Deus é a própria Inocência encarnada. A minha gratidão para com o Teatro não é somente para com quem me deu um ofício, um meio de sobreviver, mas principalmente para com quem - não me envergonho de dizer - me deu a Vida.

Quem sabe seja eterna...

Salve Maria Santíssima! Viva o Menino Jesus! Viva a Inocência Invencível!

24 de maio de 2012

Toda Nudez de sinceridade ainda será Castigada



"De repente, os idiotas descobriram que são em maior número." 

Foi com uma das infindáveis tiradas geniais de Nelson Rodrigues que iniciei minha pergunta naquela noite de terça feira, 22 de maio, para o professor Roberto Fadel. Tentei resumir o meu questionamento para o palestrante do Sarau da Feira, aquecimento cultural para a XVI edição da Feira Pan-Amazônica na capital paraense: "Como Nelson ia encarar, se vivo fosse, questões como cotas raciais, casamento gay e feminismo radical?" E completei: "Será que não existe uma certa exploração de Nelson Rodrigues por parte da esquerda cultural?"

A resposta que obtive resumiu-se a dizer que "hoje, mesmo com 100 anos, ele seria ainda mais conservador". Não há como discordar do professor Fadel nessa questão. De resto, o esforço de imaginação não me pareceu apropriado para a ocasião e ele parou por ali. Eu sei que não foi fácil responder.

Não é estranho que a esquerda cultural que domina esse país seja tão fascinada por um escritor e dramaturgo que, se vivo hoje em dia, seria uma pedra no sapato do politicamente correto? 

Muitos foram tão politicamente conservadores e 'reacionários' como Nelson Rodrigues e solenemente ignorados e esquecidos pela esquerda. Assim foi e permanece em relação a Paulo Francis, Roberto Campos, Gustavo Corção, Bruno Tolentino, entre outros. Mas existe uma explicação plausível: a obra de Nelson Rodrigues é perfeitamente instrumental para a causa do marxismo cultural na destruição da instituição da família e da moral cristã.

A própria definição de Nelson como 'anjo pornográfico" me parece ter sido assimilada em uma publicidade bem calculada para fazer do dramaturgo fluminense uma espécie de Foucault carioca, algo como uma Bruna Surfistinha de eras mais pudicas ou um prequel do Mr. Catra. 

O professor, que não me parecia mal-intencionado, mas sim surfar na crista da onda 'revisionista' da obra de Nelson, respondeu a várias perguntas de uma platéia excitada, como: "Quantas prostitutas Nelson Rodrigues se relacionava por noite?" e outras do mesmo top. Ao que respondia puxando sempre para o mesmo tom ao afirmar que Nelson era um escritor revolucionário a apontar a hipocrisia da família, do casamento e da educação cristã, etc. E quando um poeta local, a qual não recordo o nome agora, indagou se a obra de Nelson ecoava algo da tragédia grega, do padecimento do herói frente às leis divinas, outra vez respondeu que os personagens rodrigueanos não eram 'guerreiros' (sic). 

Em suma: a ordem da noite parecia ser pintar para uma platéia de estudantes de escola pública algo como Nelson ser em verdade um grande precursor dos bailes funks, das mulheres-frutas e do 'todo mundo é de todo mundo', esse ersatz nosso de cada dia. Até argumentos evolucionistas o professor usou para justificar a intensa vida de putaria que de alguma forma embasaria o espírito do grande dramaturgo boêmio...

Não é a primeira nem a última vez que assimilam a vida e a obra de outros para uma causa. Só no quesito 'o sexo como arma' temos o Dr. Freud redimensionado pela Escola de Frankfurt até parecer uma espécie de 'Marx da intimidade ocidental'. Até René Guenon, que estava mais preocupado com questões espirituais profundas teve sua crítica ao Ocidente assimilada na causa do marxismo cultural até se tornar uma espécie de Che Guevara hipster.


Mas para os revisionistas, talvez pouco importe a tônica maior da obra de Nelson Rodrigues, tão bem expressa na biografia escrita por Ruy Castro, como encontrada no excelente site do Grupo Tempo"a ficção, para ser purificadora, precisa ser atroz.  O personagem é vil, para que não o sejamos.  Ele realiza a miséria inconfessa de cada um de nós.  A partir do momento em que Ana Karenina, ou Bovary, trai, muitas senhoras da vida real deixarão de fazê-lo.  No "Crime e Castigo", Raskolnikov mata uma velha e, no mesmo instante, o ódio social que fermenta em nós estará diminuído, aplacado.  Ele matou por todos.  E, no teatro, que é mais plástico, direto, e de um impacto tão mais puro, esse fenômeno de transferência torna-se mais válido.  Para salvar a platéia, é preciso encher o palco de assassinos, de adúlteros, de insanos e, em suma, de uma rajada de monstros.  São os nossos monstros, dos quais eventualmente nos libertamos, para depois recriá-los."

Ora, não se enganem. A obra de Nelson Rodrigues, que completa 100 anos de nascimento nesse ano de 2012, só tem lugar no cânone 'progressista' da esquerda por servir bem como introdução a uma aula de 'educação' sexual. Por que não se interessam pelos relatos de proximidade da morte expressos em "Lições de Abismo" de Corção; pela obra poética colossal de Murilo Mendes, um homem que foi do ateísmo ao catolicismo mais místico; ou mesmo em escrever algo sério sobre a dramaturgia do paraense Carlos Correia Santos - aliás mediador do Sarau da Feira (que acaba de encenar um monólogo que praticamente encerra em texto teatral o que seria uma mentalidade revolucionária)? Ora, Porque não 'contribuem' em nada para a 'quebra de paradigmas sociais' no contexto de 'transformação social' das esquerdas.O que não deixa de ser uma relação conflituosa, cheia de ambiguidades - a elite prafentex não deixa de padecer de fascínio perante ao monstro reacionário que consegue ser mais safadinho do que uma Maria do Rosário. Daí é preciso 'democratizá-lo'. Ou seja, mistificá-lo até que o verdadeiro Nelson desapareça no entulho de estudos e montagens como apenas um velho machista. Machista - que inclusive era uma das definições ao meu ver simplistas do professor palestrante.

Nelson mostrava 'A vida como ela é', doa a quem doer. O sexo, a hipocrisia das famílias, dos casais e da sociedade carioca eram instrumentos para a pena de Nelson expressar a 'a miséria inconfessa de cada um de nós' e não um fim em si mesmo. Por isso, o 'anjo pornográfico' era conservador de direita. E certamente abominaria, tal como abominou também Pier Paolo Pasolini, essa banalização do pornográfico. Até os filmes pornôs antigos valorizavam a putaria em contextos de traição e de controvérsia amorosa. Hoje os atores só passam a mão na bunda da moça e já vão logo aos finalmentes. É isso o que querem fazer com Nelson Rodrigues. 

Pelo visto, no que depender da hegemonia educacional e cultural da esquerda que instrumentaliza os debates públicos, Toda Nudez (de sinceridade) ainda Será - e muito! - Castigada.



*



Imagem: "Toda Nudez Será Castigada" - montagem da Armazém Cia de Teatro

P. S - Já está mais do que na hora dos conservadores, direitistas, liberais e reacionários em geral comentarem a cena cultural brasileira. Ocupar os espaços do debate sobre as artes em geral. Falta crítica teatral, cinematográfica, de artes plásticas, musical do ponto de vista do legado intelectual do conservadorismo, por exemplo. E ainda tem bons artistas por aí que merecem ser resenhados. É preciso paciência e exercício da sensibilidade. Abraços.



19 de março de 2012

"Acorde Margarida", da Companhia Teatral Nós Outros


Quando a dramaturgia de Carlos Correia Santos for um dia analisada e dividida em fases, estilos ou gênero do tipo, etc, certamente haverá um espaço para as suas já famosas peças biográficas, ou como ele mesmo chama à instrumentação, "dramaturgia histórico-investigativa". É muito saudável para qualquer cidade desse país ter iniciativas como a que o dramaturgo vem praticando desde "Nu Nery" (onde dissecou a relação do pintor paraense Ismael Nery com sua esposa Adalgisa e o poeta mineiro Murilo Mendes - os últimos dois também com peças biográficas), continuando com outras peças como "Júlio Irá Voar" (que retrata os esforços hercúleos do pioneiro da aviação Júlio César Ribeiro de Souza em levantar um balão dirigível em Belém), "Eu me confesso Eneida", "Theodoro" (baseada na biografia do pintor Theodoro Braga), "Batista" e agora o musical "Acorde Margarida", inspirado na memória da musicista Margarida Schivasappa.

As peças que resgatam a memória de personalidades da história paraense por si já garantem a Carlos Correia um lugar de destaque não só na dramaturgia nortista como também na dramaturgia brasileira, no entanto, sempre trazem a desvantagem de parecer excessivamente didáticas com os seus personagens. O
ato de transpô-los para a cena é um exercício valioso de resgate da memória cultural do nosso estado, mas a predileção pela laudatória e por um certo tom de autocomiseração na forma talvez mais reduzam as suas personagens do que as engrandeçam. É óbvio que lançar mão desses recursos dramáticos fazem de Carlos Correia também um excelente marqueteiro de sua escrita e poética, naturalmente irrepreensíveis. O meio cultural paraense tem um pendor muito forte para a valorização do regionalismo com tintas alegres e ser "político" é sempre muito vantajoso em um cenário onde empreender cultura ainda é muito dependente das instituições públicas, em especial no teatro. Confesso que eu mesmo não conhecia a história da musicista Margarida Schivasappa (que dá nome a uma casa de show teatro da cidade) e sou muito grato pela oportunidade. 

Conhecendo a obra do autor (tive a sorte de ler quase todas as peças) reconhece-se em cena rapidamente as características mais marcantes do seu estilo, entre elas o uso da automação e do inusitado. Como bem descrito por Isaias Edson Sidney: "A automação (e sua quebra) revela as nossas semelhanças diante dos fatos da vida, aquilo que temos que todos têm, o que já constitui, em si, uma tragédia (ou um drama): pensamos que somos espertos ou sublimes, mas somos os idiotas e toscos de sempre. Já o inusitado (ou inesperado) rompe a mesmice do cotidiano conhecido para mostrar a mesmice de nossa psique desconhecida,quebrando automatismos que ignorávamos, o que revela a nossa soberba e a nossa estupidez." É importante ressaltar que "Acorde Margarida", apesar de musical, se encaixa no gênero cômico por ter um "final feliz". Adiante.

O talento na construção da psiquê dos personagens na obra de Carlos Correia Santos exige a valorização atenciosa a essas duas características construtivas da trama cômica. A montagem optou por um estilo caricatural na construção de Memê que, apesar de destoar alegremente da tendência do autor em criar personagens muito orgulhosos de suas personalidades, acaba escamoteando o interessantíssimo drama de memória da personagem, desvalorizado na busca pelo riso mais espalhafatoso e menos pela aposta na identificação da platéia - o que acontece milagrosamente na cena decisiva da peça quando a atriz Maíra Monteiro dá um salto tremendo do caricatural para o naturalismo, revalorizando com talento o que, para os conhecedores dos recursos de construção dramatúrgica do autor, já estava revelado desde a primeira cena. O autor sabota seu próprio esquematismo dramático com a construção poética sensível que dá aos seus protagonistas - importante ressaltar - mais no conteúdo dramático potencial do que na forma, uma vez que padece dos já citados excessos em laudatória e autocomiseração.

Apesar dos coadjuvantes mais caricatos 'puxarem' a personagem principal para um tom acima do que o texto sugere em riqueza de atos falhos e negações melancólicas, a direção de Hudson Andrade se beneficia da construção dramatúrgica esquemática porém correta do texto do autor, conduzindo um espetáculo que felizmente também faz da música de Reginaldo Vianna uma importante parceria. A comédia também está no patético, sendo este importante recurso no desvelamento da humanidade nos tipos humanos. Recurso ainda mais importante quando se trata de dar carne, osso e suspiros para personalidades que se tornaram imóveis ao nomear prédios públicos.

A luz de Sônia Lopes é mais uma vez prejudicada pela dificuldade terrível de se encaixar o estilo italiano no teatro Cláudio Barradas (o que me convence de uma vez por todas que o teatro é ideal para a arena e não para suprir os teatros italianos fechados da cidade). No mais, "Acorde Margarida" se realiza como musical por contar com um elenco vibrante, produção sem exageros e músicas emocionantes que garantem a alegria na volta para casa. E também foi difícil esquecer o solo musical de Fernanda Barreto provando que a entrega ainda é a alma do palco.










28 de fevereiro de 2012

Três questões para o teatro em Belém



O Teatro em Belém necessita ter sempre em vista três (3) questões. Deixo de fora - sem negar a importância - algumas questões estruturais da administração pública como a pouca disponibilidade de espaços de apresentação e a carência de incentivos públicos. Gostaria de sair um pouco do velho "Eles não ligam pra nós" se me permitem. Adiante.

1 - Investimento em publicidade dos espetáculos

Quando digo para um desconhecido que faço Teatro ouço, quase sempre, a mesma pergunta: "Ah, você é do Verde-ver-o-peso?". Nada contra esse clássico do teatro paraense mas isso evidencia o quanto o público desconhece a maior parte dos trabalhos feitos pelos criativos grupos da cidade. O espetáculo do Grupo Experiência está há décadas em cartaz e não há como se comparar nesse quesito. A questão que quero colocar é que muitas vezes falta investimento na divulgação dos espetáculos. As redes sociais abriram uma possibilidade maravilhosa, porém a melhor forma de divulgação - além das matérias em sites e jornais e dos cartazes e folders passados de mão em mão -  ainda é a velha e eficiente propaganda, seja em rádio, TV ou em outdoors. Aí você pergunta com toda razão: "Com que dinheiro?" É aí que está. Eu mesmo já me convenci de que não dá pra fazer teatro em Belém na expectativa de um retorno financeiro sem a ajuda dos recursos de uma mídia ostensiva. Existem casos excepcionais, é claro. Mas as produções, em especial a dos grupos sem uma platéia cativa numerosa, podiam pensar com carinho em um dia investir (ou direcionar, nos casos de espetáculos subsidiados por recursos públicos) na venda do seu trabalho como um produto, possibilitando que a platéia venha a ser composta um dia por mais dos que os parentes e amigos mais próximos. Falando em espetáculos subsidiados, acho um absurdo que muitos dos editais não tenham uma cláusula exigindo que os grupos invistam parte dos recursos destinados para a publicidade dos espetáculos. É preciso comprar - literalmente - a briga pela atenção do espectador em tempos de internet, DVD e TV a cabo. Se pudesse simplesmente optar em ter mais dinheiro para montagem, para pagar atores e técnicos OU para divulgação dos meus espetáculos, eu escolheria sem pestanejar este último. Teatro é para ser visto. 

Investimento em publicidade também é um problema no item 2.

2 - Festivais de Teatro regionais e nacionais

Festivais são eventos caros. É louvável o esforço dos que organizam festivais e mostras de teatro em Belém e no interior, com ou sem recursos públicos (raríssimos!), periodicamente ou não. No entanto, tem falhas em quase todos os festivais que atentam contra os objetivo principal dos próprios festivais que são a formação de platéia e o intercâmbio entre o fazer teatral entre cidades, estados ou países diferentes. A formação de platéia é PREJUDICADA pelo investimento deficiente na publicidade dos festivais. Um festival que se preze tem que ambicionar PARAR uma cidade para que ela o veja passar. O que acontece de fato - como aconteceu no último e único Festival Nacional de Teatro promovido no ex-governo estadual petista - é que praticamente apenas os artistas ficam sabendo dos festivais. Os festivais ficam parecendo mais jogadas políticas para ganhar status com a "classe" do que um compromisso verdadeiro com o público. Este, do centro e da periferia, fica quase que completamente alheio aos acontecimentos, perdendo a oportunidade de comparar a produção local - como no caso do Festival Nacional - e perceber que muito do nosso teatro não deve nada em contraste com a qualidade dos grupos convidados, como por exemplo, os dos grandes centros como SP. Quantas vezes não fiz essa pergunta para pessoas de cantos variados da cidade, da classe A, B ou C, durante esses festivais: "Você sabia que está ocorrendo um Festival de Teatro na cidade?", e a resposta: "Não... Quanto é?", ao que devolvia: "É de graça, pô!" O que evidencia uma triste dinâmica: a "classe" vai aos Festivais e leva os amigos mais próximos. No entanto, a dona Menina lá da Terra Firme que sonha em levar os netinhos ao teatro não sabe até hoje que por aqui existiram festivais. Prova de que o povo quer ir ao teatro foi a passagem dos SESI Bonecos pela cidade arrastando multidões mesmerizadas com um simples: entrada franca. É claro que o SESI investiu milhares e milhares de reais mas também não dá pra formar platéia pensando em avisar só o periquito e o papagaio da vizinha. Os festivais devem ter como missão fazer com que as cidades se apropriem da diversidade de suas produções e, sentindo-se orgulhosos delas, se lembrarem de que pode ser recompensador investir nos grupos locais. Sonho em um dia me surpreender com minha vizinha vendo o quanto eu me esforço na platéia de um festival. Mas ela só vai comparecer se visualizar um outdoor no seu bairro, ouvir no rádio ou ver na TV. Ou se eu avisar ela.

O intercâmbio entre os fazeres teatrais é o assunto do item 3.

3 - Quando vai nascer um crítico teatral nessa cidade?

É fato. Belém precisa urgentemente de críticos teatrais. Não precisa ter qualidade pra começar: que venham os toscos, os pedantes, os ignorantes, os trolladores, os cruéis, os desonestos, etc. A verdade é que eles precisam aparecer e colocar a produção local em debate. É só através do debate que a mesma crítica teatral vai se aperfeiçoar e realmente começar a beneficiar o trabalho dos artistas. É muito louvável a iniciativa do Orlando Simões do site Ponto Zero com o seu foco na semiótica dos textos. Contudo, a produção precisa refletir não só o trato com a dramaturgia, mas também os esforços da direção, a criatividade ou não dos técnicos, a insegurança dos atores, o equívoco das produções, etc. Eu me pergunto porque a Escola de Teatro da UFPA não forma críticos com tanto o que tem de teoria no currículo dos seus cursos. Nunca passou pela cabeça de nenhum egresso desta, ao perceber que apesar dos esforços para se encaixar como ator ou técnico, que poderia também mergulhar em estudos naquela biblioteca para se arriscar a escrever sobre o que vê nos palcos da cidade? Ou será que todo mundo nessa cidade só pensa em brilhar na ribalta? Servir ao teatro apaixonadamente pode comportar muito bem a atividade profissional de um crítico sem medo de pisar em ovos. Os grupos sérios com trabalhos coerentes merecem ser reconhecidos e os claudicantes merecem sim umas bordoadas. É a ausência de diversidade do debate intelectual que nos separa dos grandes centros muito mais do que o destino dos recursos públicos. No último Festival Territórios de Teatro, quando o Teatro do Ofício participou com o espetáculo "Uma Flor para Linda Flora" de Carlos Correia Santos, constatamos, surpresos e decepcionados, que não teria crítica teatral opinando. Foi um balde de água fria. Para mim, ao menos, foi um prazer incompleto, apesar da platéia maravilhosa, fazer um esforço do cão para não ter um só minuto de reflexão sobre o resultado de 2 anos de trabalho. Teve cachê mas saímos mais pobres do que entramos. Sonho em ter meu trabalho esculachado por um crítico em uma Belém que só tem sorrisos e tapinhas nas costas. O público, mais uma vez, perde a oportunidade de comparar o nosso trabalho graças ao provincialismo em se preservar mais o amor da "classe" do que a busca da perfeição. 

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Longe de mim achar que tenho soluções e que sei o que é o certo para o Teatro feito em Belém. Também não tenho nenhuma militância teatral (no sentido reivindicatório da coisa) para me servir de atestado de autoridade. O que tenho é a minha lida com os problemas do palco como ator ou, mais recentemente, como produtor e diretor dos meus trabalhos no Teatro do Ofício.  É bom esclarecer que tudo o que eu opinar aqui também vale para mim. Tenho o ponto de vista do meu fazer teatral com alguns sucessos e um desfile infindável de fracassos maravilhosos que enriqueceram a minha alma e empobreceram os meus descendentes. Evoé.