Ainda tenho o sonho de fazer teatro com gente normal. Explico o 'gente normal'. Sonho em fazer teatro com gente que vê a arte como busca da verdade e da beleza, que entenda o gesto bondoso de interpretar a realidade dos homens e da vida, e que se doe ao ser com intensidade.
Não busco um teatro de 'direita', não é isso; mas sim um teatro direito, honesto, feito por pessoas interessadas em ser 'monstruosas' no sentido shakesperiano do termo, que saibam ler o que escreve o amor calado: ouvir com os olhos é do amor o fado', como disse o Bardo.
Não busco o teatro feito por aqueles putos/putas mimadas que buscam nos palcos somente alguma notoriedade boba ou monstruosidade mal escrita para 'chocar a sociedade conservadora'.
Desprezo os artistas dito progressistas, que entre uma péssima atuação e outra vão prostituir a arte na luta-do-contra-tudo-que-está-aí-está através de dramaturgias forçadas, enfeitadas apenas com sinopses que pretendem não deixar ao espectador experiência de descoberta alguma, mas somente doutrinação panfletária para dizer o quanto são vítimas por serem pretos, mulheres ou adeptos de amores e esfregações heterodoxas, whatever, para que a platéia se entedie e continue a apoiar partidos políticos que vão jogar algumas migalhas para esses pobres incompreendidos que vivem sem dinheiro pra pagar uma cerveja.
Desprezo os ditos artistas interessados na sutileza e na subjetividade na arte como caminho fácil para juntar um grupo de ativistas ou militantes de qualquer coisa; seja para salvar as baleias, ou jovens em situação de risco, ou gente carente de ter onde desmunhecar ou de dizer pra vizinha o quanto é descolado.
Desprezo, acima de todas as coisas, o teatro dito experimental que aglutina apenas relatos de adolescentes confusos e ingênuos que confundem o desejo legítimo deles de dar a bunda e serem felizes com verdadeira inspiração artística, como se a intenção e o engajamento da obra fossem tudo, e a técnica e a forma não fossem nada. A criação coletiva - quando muleta do analfabetismo - é a decadência do teatro, a invasão bárbara que transforma anfiteatros em feiras de venda de animais.
Não que o teatro deva deixar de ser - como aliás foi e deve continuar sendo - a jóia de ouro da liberdade de expressão. Não. O teatro deve continuar a ser o aríete silencioso contra todas as imposturas, preconceitos, lugares-comuns, clichês, velhacarias, etc; mas com o respeito a inteligência dos seus espectadores - que antes de ver representadas as suas indignações - querem fazer parte do drama humano e da comédia de erros, querem descobrir por si, verter lágrimas e rir, sorrir e pensar, não simplesmente SABER O QUE ELE TEM QUE PENSAR AGORA PRA SER UMA PESSOA DITA LEGAL E ANTENADA. Existe uma diferença imensa em ser polêmico como Brecht ou Nelson Rodrigues, ou ser polêmico como Jean Wyllys ou Luciana Genro.
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