21 de setembro de 2013

O filme "Anjos e demônios" de Ron Howard e o fascínio de Dan Brown pela Igreja


"Se Dan Brown parece fascinado pela Igreja, é preciso reconhecer que não é o único: em Roma existe agora mais peregrinos que nunca"Pe. John Wauck, da prelazia pessoal do Opus Dei, nascido em Chicago, professor de literatura e comunicação da fé na Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, estudou história da literatura na Universidade de Harvard.


Perto daquele fiasco que foi "Código da Vinci" (também de Ron Howard), considero-o até muito interessante em vários aspectos: a fotografia de Roma e que alude ao Vaticano é esplendorosa, as atuações são boas, a trilha é interessante e a edição excelente (em especial nas cenas de ação).

Ron Howard, entretanto, é bastante 'hollywoodiano". Acontece que quase sempre ele foi, na minha humilde opinião, um narrador bem competente. Certinhos, comerciais, porém bem dignos de um par de ingressos, foram por ele dirigidos "Uma Mente Brilhante", "Apollo 13" e "Cocoon" (meu preferido; a trama sobre ET's é mero pretexto pra falar da velhice).

Felizmente nesse filme Howard me surpreendeu ao revalorizar a sua habilidade narrativa em detrimento da verborragia e do 'enrolation' do desastroso "Código". 


Surpreendeu-me novamente o filme ao exibir no roteiro um raro equilíbrio no trato das questões entre fé e ciência, permitindo na tela uma dignidade a Santa Igreja e a Fé que é raríssima no cinema de hoje. 

Até me despertou curiosidade sobre o livro... 

Aí que buscando críticas sobre o filme achei essa fantástica entrevista de um padre da Opus Dei que afirma algo que há muito já disse sobre esses produtos culturais que usam/abusam de referências - principalmente negativas - sobre o catolicismo. Esses produtos referenciam-se a Igreja porque creem que nas imagens e símbolos pertencentes a ela residam um verdadeiro poder, uma irresistível atração e autenticidade. Falei disso também no artigo que fiz analisando o filme "Ágora", do diretor chileno Alejandro Amenábar.


Das peças e romances blasfemos da Revolução Francesa às paródias de Madonna e Lady Gaga, aludir a Santa Igreja e seus dogmas quase sempre redundaram em lucrativo sucesso. O Pe. John Wauck mata a charada ao comentar o livro. E provoca:

(essa passagem não consta no filme)

- Pe. Wauck: Dá a impressão de que estamos lendo o Catecismo da Igreja Católica, ao invés da novela de Dan Brown. A passagem é esta: 

"Pedro é a pedra. A fé de Pedro em Deus foi tão firme, que Jesus o chamou de ‘a pedra’, o discípulo incomovível sobre cujos ombros Jesus construiria sua Igreja. Neste lugar, pensou Langdon, na colina do Vaticano, Pedro havia sido crucificado e enterrado. Os primeiros cristãos construíram um pequeno santuário sobre o seu túmulo. À medida que o cristianismo se estendeu, o santuário cresceu, passo a passo, até converter-se nesta basílica colossal. Toda a fé católica havia sido levantada, literalmente, sobre São Pedro. A pedra"
(“Anjos e demônios”, cap. 118).

O filme demonstra no roteiro perplexidade semelhante diante dos mistérios da Santa Sé deixando posicionamentos mais radicais em suspenso.

Entrevistador: Você não acha que com esta entrevista estamos promovendo gratuitamente o filme?

- Pe. Wauck: Quem está promovendo quem? Esta é a questão. Possivelmente, há publicidade nas duas direções, mas se consideramos o tempo, as energias e os milhões de dólares empregados na produção e promoção deste filme, eu diria que nós estamos levando a melhor parte. Isto é, que talvez Deus esteja se servindo de Hollywood para atrair a atenção de alguns sobre as riquezas da fé e da cultura católicas.

Isso me faz lembrar a velha constatação de como a Igreja cresce mesmo na adversidade. E que eu gosto ainda mais desse filme.

Aqui o trailer (que, é claro, ressalta os aspectos conspiratórios da trama):



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