Sinceramente sinto mais dignidade para com os animais de uma tourada ou de um rodeio do que com aqueles de um laboratório de testes. Por mais cruel que pareçam, as manifestações lúdicas entre homem e animal tem um caráter de balanceamento ontológico entre as espécies, uma iniciativa do espírito humano para compensar o uso vulgar da vida dos animais na alimentação, vestuário, etc. Uma tentativa de revestir a crueldade cotidiana de consumo e da exploração de algum sentido transcendente. A simplicidade - e por que não a sensibilidade e ingenuidade do homem do campo? - desenvolveu maneiras de re-integrar o animal no enredo cósmico, ressaltando sua relação de mútua cooperação mas também de conflito. Ao cavalo que labuta na lavoura oferece-se a oportunidade de voltar a ser selvagem na arena ou solto em uma corrida; ao touro de participar de um certame de vida e morte depois de ser celebrado com flores, rezas e cortejos; ao burro que leva chicotadas dá-se o papel de carregar o Salvador em autos de Natal e Paixão; em alguns países montam-se em porcos vestidos como seres humanos, etc. O contrário dessa 'crueldade' é a matança DESPERSONALIZADA e INDUSTRIAL dos animais, o que inclui os testes - embora necessários - de laboratório. Muito me pergunto se a brutalização do homem moderno não tem muito a ver com essa inevitável massificação do extermínio animal sem a recorrência de uma reconciliação ontológica, de uma consagração dessa relação entre homens e animais.
OBS: Nós brasileiros devíamos nos orgulhar muito de nossas manifestações folclóricas. O brasileiro criou o boi bumbá, por exemplo. Substituiu o sangue jorrando do touro ibérico pela teatralização, pelo fantoche. O efeito de balanceamento ontológico é o mesmo.
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